Ana Angélica

 

 

 

 

 

 

Na prática artística de Ana Angélica, a fotografia é tomada como um campo de experimentação e tem os seus limites investigados em diversas direções. Essa experimentação desempenha um papel tão preponderante, que em alguns dos seus trabalhos, como na série Imagem de abertura, importa menos a imagem como produto final que corresponde a expectativas inicialmente projetadas pelo artista do que como indício de um processo que a gerou. Muitas vezes, a pesquisa passa pela construção de câmeras pinhole (câmeras sem lentes, elaboradas artesanalmente), que permitem intervir diretamente no processo de captação da fotografia. A pinhole interessa à artista também por propiciar a entrada do acaso no processo de constituição das imagens. Se, por um lado, construir uma câmera abre a possibilidade de criar um tipo de imagem peculiar, como acontece na série Janelas, por outro, implica em acolher as inúmeras imprecisões de um processo artesanal. Os longos tempos de exposição, por exemplo, que frequentemente são necessários quando se utiliza a pinhole, aumentam a chance de incidentes não planejados durante a captação da imagem. 

Esse interesse pelo acaso é inseparável de uma outra reflexão importante na produção da artista, que diz respeito à questão do tempo, e de como este pode se fazer presente na fotografia. Em diversos trabalhos de Ana Angélica essa manifestação do tempo nas imagens se dá através de um flou, uma falta de nitidez que impregna as fotografias, causando aquilo que Raymond Bellour (1997) chamou de uma “pancada” na analogia das imagens. Em séries como Etéreos, essa experimentação com o flou pode ser situada num campo de diálogo entre fotografia e pintura.

As três séries que integram a Midiateca, Janelas, Imagem de abertura e Tempos de exposição, contemplam diferentes vertentes de experimentação exploradas no trabalho artístico de Ana Angélica.