Paula Trope

 

Paula Trope, artista cuja trajetória se inicia nos anos 80, tem a peculiaridade de imprimir em seus trabalhos o desmonte da tecnologia e a construção de uma relação dialógica com aquele que é fotografado ou filmado. Isso ocorre através da sua ação de captura de imagens com aparelhos artesanais (latas como câmeras de orifício – pinhole) ou mesmo filmadoras cuja parte ótica é alterada, procedimento que propicia um diálogo com cenas e personagens com que decide trabalhar. Seus projetos contam, muitas vezes, com a contribuição da pessoa fotografada ou filmada, de modo que esta também atue como autor das imagens. Os efeitos do tempo são também enfatizados em seus trabalhos, seja pela temática ou pela técnica que elege.  

Os meninos juntamente com Miragens e Exílios se destacam como um corpus diverso dentro da trajetória de Paula uma vez que operam com o aspecto temporal seja no suporte ou na apresentação do humano e da paisagem que o rodeia, sob diferentes pontos de vista. A poética das obras privilegia imagens precárias, turvas e imprecisas, tal como a alusão à visibilidade de alguns de seus fotografados. Incorpora o diálogo da imagem com a invisibilidade, da memória com o esquecimento, da voz com a afasia.

Meninos, imigrantes exilados e paisagens adentram sua estética de meios tecnológicos precários para dizer que a produção artística necessita desse confronto com o adverso e a alteridade. Complementando com as palavras do crítico Paulo Herkenhoff (2007, p.3), para Trope, “a arte é o diagrama de trocas produtivas no tecido das alteridades. O que jaz na zona da obliteração social, moeda do olhar na exclusão, torna-se visível”.