Por um Fio

 

Por um Fio I

Por um Fio I, assim como a série Negativo, opera no dualismo visível/invisível. Os negativos acumulados produzem novas opacidades, reorganizando a transparência em solidez. Ana Vitória Mussi impede ou dificulta o acesso do espectador ao registro: a ideia da cortina, mesmo como elemento estético, decorativo e arquitetônico, é bloquear, dificultar ou tornar difusa a passa- gem de luz. O negativo é inutilizado: a luz não mais o atravessa para produzir imagens, mas é impedida pelo acúmulo, pelo excesso; a imagem inscrita na superfície sensível, por sua vez, acumula poeira…

Há algo que dialoga com a noção, explorada em outras obras, de aversão a novas imagens. Em um mundo saturado delas, Mussi opta pela apropriação e pela negociação com imagens já existentes, estancando, assim, o fluxo contínuo e deliberado da (re)produção, cujo destino é, muitas vezes, o lixo, o vazio, o esquecimento… Ao subverter o propósito do negativo e criar os es- tranhos objetos, Mussi movimenta um jogo calculado: de nada adianta que um dia um diafragma tenha se aberto e permitido a passagem de luz sobre o filme sensível, toda essa maquinaria óptica perde o sentido na subversão (que não deixa de ser ligeiramente perversa) de Ana Vitória Mussi.