Gritos Surdos

 

Gritos Surdos, 2005

Instalação montada na Eglise des Frère Precheurs, Arles, França

Gritos surdos deu nome a algumas exposições de Miguel Rio Branco e a diferentes trabalhos, referentes a um mesmo universo de questões e sensações. As imagens que integram a Midiateca correspondem à instalação com projeções de vídeo, cuja primeira montagem aconteceu no final de 2001, quando o artista foi convidado para expor no antigo tribunal da prisão da cidade do Porto (Portugal). Esta instalação foi montada também na Eglise des Frère Precheurs (França), em 2005, e no Groninger Museum (Holanda), em 2006.

Três projeções de vídeo simultâneas compõem a instalação Gritos Surdos. As imagens que acompanhamos nesses vídeos nos põem em contato com um universo nada ameno: um túnel que não parece ter fim; uma sucessão de caveiras, às vezes fundidas com imagens de mar agitado e de nuvens, às vezes nos encarando de frente em grandes closes; os deslocamentos de um corpo (que nunca vemos) pelos labirintos de uma cidade à noite. As trilhas sonoras, criadas por Bartolo (para o vídeo do túnel), Gera Cravo (para o vídeo das caveiras) e pelo próprio Miguel Rio Branco (para o vídeo da cidade noturna), imprimem ainda mais tensão ao trabalho, ao mesmo tempo que nos remetem a rituais e estados de transe.

A impregnação desse mundo de sons e de imagens num local como antigo tribunal da prisão da cidade do Porto compõe uma experiência que mistura sensações de perigo, angústia, morte e poder. Na Eglise des Frère Precheurs de Arles, o trabalho incorporou também, segundo Miguel Rio Branco (2011), uma dimensão mística, pela forte presença arquitetônica da igreja. Philippe Dubois (2009) observa que Gritos Surdos, em sua radical experimentação, reata com certa pré-história do cinema, com a tradição das fantasmagorias. Segundo o autor, “(…) um conjunto compósito como esse não faz para si próprio a questão de seus diferentes suportes, mas compõe uma forma global, cuja potência e intensidade residem em particular no sentido de projeção, inclusive no sentido fantasmático e histórico, bem como se organizam em torno da idéia metafísica de “dança macabra”, com seus crânios, máscaras mortuárias, primeiros planos sangrentos, travellings urbanos, muros deteriorados saturados de fios elétricos, expostos como fantasmas, e espectros que piscam e vibram na escuridão. (…)”(DUBOIS, 2009, p.90).