Janelas

 

 

As fotografias da série Janelas apresentam uma visão inusitada do espaço, fundindo interior e exterior de um ambiente, misturando o fora com o dentro. A realização do trabalho envolveu a construção de uma câmera pinhole, especialmente desenvolvida para produzir essa visualidade. Ana Angélica descreve assim o processo do trabalho: “A produção de imagens que empreendi nesta pesquisa com câmeras fotográficas artesanais foi iniciada com uma câmera cilíndrica que fotografa um raio de 360º, dividido em quatro imagens, uma a cada 90º. O filme é colocado no centro do compartimento na forma de um círculo, acompanhando o formato da câmera. Transformada a partir de uma lata de metal, a câmera foi realizada desta forma com o objetivo de fotografar a relação entre o interior arquitetônico e a paisagem – seja ela um muro, uma parede, uma janela, um campo, uma árvore, um jardim, um quintal – de diferentes moradias. Posicionada na janela de um determinado cômodo da casa, cada um dos seus furos aponta: para o interior do cômodo, para o parapeito da janela, para o exterior, a paisagem, e para o outro lado do parapeito da janela. Assim, numa mesma imagem, é possível obter as quatro vistas diferentes, cada uma se fundindo um pouco com a que a segue” (Costa, 2008, p.52).

A câmera sem lentes em formato cilíndrico, usada pela artista, efetua uma alteração nos moldes da perspectiva comumente associada à fotografia, criando imagens nas quais experimentamos um espaço que se expande e rompe os limites entre frente e costas, esquerda e direita, exterior e interior. E isso acontece suavemente, com a intervenção de luzes e cores que aproximam os espaços de forma delicada, oferecendo uma visão em que a paisagem aparece aderida a uma poética da intimidade.