Dirceu Maués

 

 

Dirceu Maués tem se destacado no cenário contemporâneo por sua produção fotográfica com câmeras artesanais (pinhole). Essa técnica imprime nas fotografias rastros de movimento, desfocados, nuances de fluxo temporal. Observar seus trabalhos é se defrontar com a estampa intensa advinda da captura do tempo em imagens. 

Os espaços fotografados são povoados de uma atmosfera imaginária advinda de nuances fotográficas, convidando o observador a perder-se dentro das imagens, a criar um filme para elas. Do burburinho frenético do Mercado Ver-o-Peso à visão silente de outros cenários, o artista compõe uma trama fotográfica híbrida – entre a imagem fixa e a imagem em movimento, entre a moldura fotográfica e a montagem videográfica. Recorrendo às palavras do crítico Paulo Herkenhoff (2007, p.34), “Dirceu Maués trata a fotografia como tatear cartográfico de um território em trânsito: porto, navegação entre cenas, ponto de detenção, horizonte e paisagem”. Trânsito este tornado visível no modo como as imagens duram ou se apressam diante do olhar. 

A captura fotográfica artesanal com câmeras de orifício, aludindo aos primórdios da fotografia, é um caminho estético que prima pelas imagens imprecisas, nebulosas, pela figuração do flou, pelo frêmito fotográfico. Misturá-las com a temporalidade do vídeo é, para Dirceu, um percurso vital de sua poética. A tônica dos seus trabalhos se dá na zona intercessora dos processos artesanais com os digitais, de modo que as modalidades de imagem operem num espaço de fronteiras fluidas e expansivas. Dentro do universo das imagens pinhole, as três obras que fazem parte da Midiateca (Dos sonhos que não acordei, Feito poeira ao vento e Ver-o-Peso pelo furo da agulha) incorporam diferentes apropriações do fazer fotográfico artesanal, ora expandindo-o, ora contraindo-o.