Marcos Bonisson

O Artista como Colecionador

Marcos Bonisson adotou a fotografia como principal campo de trabalho após experimentar outras técnicas na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, onde frequentou cursos de gravura, pintura e escultura. Mais tarde, passou a conciliar seu trabalho de artista com o de professor e pesquisador. Leitor de textos sobre arte e familiarizado com os clássicos literários, lidos nos tempos da faculdade de letras, Bonisson teve, desde muito jovem, contato com a produção da vanguarda brasileira contemporânea, em especial a de Hélio Oiticica – personagem de seu documentário H.O.N.Y, fruto do seu encontro com o artista em Nova York nos anos 70. Assim como Oiticica, Bonisson mescla o rigor do arquivista com o investimento na relação afetiva do espectador com o trabalho. No seu processo de criação, faz uso dos vestígios que recolhe por meio da fotografia em seus diversos trajetos, (des)orientados por sua atração pelounderground, pelos desvios marginais, por aquilo que ficou de fora do cir- cuito e que foi desprezado. Nas suas imagens, esses restos, imperceptíveis enquanto dejetos, transformam-se em elementos sensíveis produtores de afetos. Com o extremo rigor de um exímio conhecedor da técnica fotográfica, o artista transforma detalhes banais do cotidiano em imagens refinadas cuja presença no ato da apresentação é meticulosamente cuidada.

O próprio Benjamin classificou o livro como o “desenvolvimento da arte de citar sem aspa”. Arpoador é um projeto que reúne diferentes personagens da história da arte e da fotografia. Martin Munkácsi, Jan Dibbets, Alair Gomes, Hélio Oiticica, Geraldo de Barros, Pierre Verger, Gordon Matta-Clark, Joseph Beuys, entre outros, são homenageados de modo sutil por um artista que tem a consciência de suas escolhas, base de onde se lança sobre o es- paço vazio, no qual seu próprio corpo se encontra com a fluidez da matéria

Leandro Pimentel